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Auto Apresentação

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Ana Maria Otoni Mesquita

Nasci no Rio de Janeiro na última fase do governo de Getúlio Vargas. Fui registrada como Ana Maria Otoni Mesquita, pelo meu avô materno, que, contam, voltou para casa indignado porque o escrevente do cartório recusara-se registrar Ottoni, com dois t's, considerado "estrangeirismo". Regras ditatoriais e sem noção, sempre fizeram parte da cultura política do estado brasileiro.

Casa ampla, jardins bem cuidados, horta e pomar. À época, nenhum dos membros da minha família era político de profissão, mas todos os homens falavam de política e abraçavam profissões que garantiam poder político na sociedade, enquanto as mulheres, apesar de muito talentosas, alunas exemplares, pouco se profissionalizaram para fora do cuidado da casa e dos filhos. Formadas em piano, tocavam bem, pintavam bem, costuravam bem, cozinhavam bem, mas de profissão foram, no máximo, professoras de primeiro e segundo graus. Nesse ambiente, também nasceu minha irmã, companheira de brincadeiras e travessuras na primeira infância. À época, eu costumava abrir o piano e dedilhar algumas canções com a ajuda de minha tia avó. Queria ser pianista.

Foi a minha geração que deu o salto de qualidade no papel de mulheres na história do Brasil, quiçá, do mundo. O domus deixou de ser o universo das mulheres de classe média e estável, social e economicamente, e elas foram conquistando o mundo das universidades, do trabalho e das realizações grandiosas. Vale lembrar, que ainda estamos longe da conquista de um mundo, verdadeiramente, amável, e em especial, justo para as mulheres. As mulheres pobres, há muito haviam saído de casa para garantir o sustento de suas famílias, ou nem casa tinham. Não é mesmo?

Cursos primário e secundário, como eram designados à época, frequentei em diferentes instituições e cidades brasileiras. Devido à profissão de meu pai, a família mudou-se várias vezes. As escolas - e foram várias! - eram muito boas, fossem públicas ou privadas. Em 1965 prestei vestibular e ingressei na universidade.

Aos dezesseis anos fiz intercâmbio e morei durante um ano nos Estados Unidos da América. Foi uma experiência de vida complexa e indescritivelmente intensa, muito além da oportunidade de aprender inglês e de conviver com estudantes de todo o mundo. Frequentei a escola pública da cidade, uma bem-conceituada escola de ensino médio da costa leste americana. Lia muito, escrevia muito, discutíamos muito, especialmente, política internacional, livros, eu e meus pares, nos divertíamos muito, também.

Esse mergulho em outra cultura marcou minha vida para sempre.

Voltei para o Brasil com mais perguntas do que respostas. Por que os americanos conseguem e nós brasileiros não conseguimos ter um projeto de desenvolvimento sólido e permanente?

Na volta, em um primeiro momento, rever a família, amigos e amigas foi uma grande festa e comemoramos com alegria esse reencontro. Os maiores desafios foram a difícil reinserção familiar e a escolha do curso universitário. Após um ano distante da família, eu voltei uma pessoa diferente, com novos hábitos, ainda que os mesmos valores. Prestei vestibular e fui aprovada no curso de Psicologia na PUC-Rio, mas devido à transferência de meu pai, me formei pela PUC-RS, em Porto Alegre. Casei-me e fui morar em Jerusalém, tivemos uma filha, hoje economista. Trabalhei em hebraico e inglês. O francês que trouxe da escola e o espanhol que aprendi na prática me ajudaram a transitar pela literatura e convívio num país estrangeiro.

A experiência em Israel foi outro ponto de mutação na minha vida. Um país em guerra, um conflito intenso por um território mínimo, uma mesquita, uma igreja, uma cidade centro dos significados de todas as religiões judaico-cristãs e islâmicas. País socialista à moda escandinava, saúde e educação gratuitas e de qualidade. Por outro lado, desenvolveu uma das tecnologias de segurança mais poderosas do mundo, que usa para destruir populações desprotegidas nos territórios da Palestina. Aos palestinos, a saga de Antônio Conselheiro, de se defender do extermínio dos opressores. Difícil! Mas isso é outro assunto.

Israel turbinou minhas ideias políticas.

Em primeiro lugar, o movimento feminista. Por outro lado, Israel construíra uma poderosa central sindical. Meu então primeiro e único marido costumava dizer que no país, nenhuma decisão política importante era aprovada, sem a participação dela, a Histadrut. Voltei ao Brasil durante as greves do ABC, em que Luiz Inácio Lula da Silva despontava como uma importante liderança do movimento que, junto com outras forças sociais terminaram por derrubar uma ditadura cívico-militar de 21 anos. Em 1980, participei do movimento de fundação do Partido dos Trabalhadores.

Na graduação em psicologia, forte influência da psicanálise de Melaine Klein e Anna Freud. Revelei uma clara sensibilidade para identificar processos psicodinâmicos e psicodiagnósticos. Na clínica, me especializei em Psicodrama Clínico e Psicodiagnóstico mestrado em Psicologia Clínica na PUC-Rio em Psicodrama, quando identifiquei semelhanças entre os conceitos do Psicodrama (de Moreno) e o Paradigma da Complexidade (de Edgar Morin). O doutorado foi na ENSP-Fiocruz, RJ, sob o título "O Olhar dos Profissionais de Saúde sobre a Gravidez na Adolescência". Sempre trabalhei como psicóloga clínica e psicoterapeuta autônoma, mas, em 2001, fui aprovada em concurso público para o cargo de psicóloga da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, SES-RJ onde trabalhei, concomitantemente, nos últimos 20 anos.

As novas tecnologias sempre exerceram grande fascínio sobre minha compreensão do mundo. Acredito que o desenvolvimento tecnológico mais vai nos libertar do trabalho escravo do que o inverso. Atualmente, meu interesse maior é no potencial da informática, da internet, das tecnologias da comunicação. Apesar de ter uma biblioteca física, com mais de 1000 livros, cuja estante eu batizei de "Minha história de vida", é ao bom e velho Google que eu recorro, cotidianamente, para pesquisar e obter respostas às minhas indagações. Já para a pesquisa científica relativa à saúde, recorro a plataforma Scielo.

Autores que eu gosto, são muitos. Na literatura, no topo da lista está Milan Kundera: A Insustentável Leveza do Ser, A Brincadeira, A Imortalidade, Risíveis Amores, A Ignorância, A Identidade, O Livro do Riso e do Esquecimento, e muitos outros. Virgínia Woolf, magnífica. Rubem Fonseca, meu vizinho de bairro, que, certa vez, comparei à Kundera e ele ficou visivelmente lisonjeado. Também tem Machado de Assis e seu Dom Casmurro, os existencialistas Albert Camus e seu Mito de Sísifo, o Estrangeiro, Jean Paul Sartre em O Existencialismo é um humanismo, A Náusea, Isabel Allende, Vargas Llosa em A Guerra do Fim do Mundo, Gabriel Garcia Marques em 100 Anos de Solidão, Guimarães Rosa e sua linguagem cheia de neologismo, comparável a um James Joyce de Ulysses, Rubem Braga, Fernando Sabino e seu Encontro Marcado, Rosiska Darcy, o extraordinário Fritjof Capra e seu Ponto de Mutação, e tantos outros. Outros especializados na ciência da psicologia e as diversas escolas. Gosto do existencialismo, do confucionismo, da teoria da linguagem, da psicanálise, do psicodrama, minha especialidade clínica, da teoria da complexidade, herança da física quântica.

Meu objetivo no curso de Escrita Criativa é de criar oportunidade para mim mesma de organizar esse aparente caos de conhecimento para escrever por prazer, para ser feliz. Simplesmente aprender a contar histórias, compartilhar minhas experiências. Histórias que emocionem e estimulem as pessoas à reflexão. Algo como autores das séries coreanas estão produzindo, há mais de 20 anos. Razão e emoção, informação científica de qualidade com o coração.

No mundo online, sou Ana Otoni. Nunca tive pseudônimo. Adoro as plataformas YouTube e a Netflix. Desde a prisão injusta e sem fundamento que perseguição política do nosso presidente Lula e o impedimento da Presidenta Dilma, sem qualquer referência constitucional, bloqueei os meios de comunicação comercial do meu espectro comunicacional. Para mim, a grande máxima da última década estava escrita em um cartaz de rua: A Rede Globo Faz Mal à Saúde.

Ana Maria Otoni Mesquita

Natural do Rio de Janeiro, antes de realizar o curso de Formação de Escritores na Editora Metamorfose, foi Psicóloga Clínica e funcionária Pública da Saúde Estadual do RJ, com doutorado em Ciências pela Ensp-Fiocruz. Desde 2024 mora em Brasília e realiza sua produção profissonal online.

Publicou contos nas coletâneas são "As vidas que ninguém vê" e "Crianças Pequenas". Tem um gosto especial por escrever resenhas sobre séries coreanas e publicou algumas na Revista Intertelas, sobre assuntos dos países asiáticos com destaque para Irei quando o tempo estiver bom, que foi publicada, igualmente, na plataforma da Metamorfose. 

 

 

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