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Eu, escritora?

Eu, escritora?

Crônicas de Ana Paula De Moura Souza

Participei essa semana da segunda aula do curso de formação de escritores.

A intenção nessas primeiras aulas é dar uma visão geral do que é ser escritor hoje, com a definição de conceitos de literatura, escrita criativa, gêneros, e muitas trocas de ideias sobre textos literários, ou seja, tudo o que mais amo discutir e aprender.

Mas hoje terminei a aula mirando a tela recém fechada da sala do zoom com uma pequena crise existencial: eu sou mesmo uma escritora?

Descobri na aula que sim.

Escrevo, logo existo?

Da definição mais básica possível: uma escritora é aquela que escreve. Check ?

Eu sei escrever, gosto de escrever e tento escrever com frequência.

Síndrome da impostora, procrastinações, filhos e bloqueios criativos a parte, sim, eu escrevo. E esse texto é a minha prova irrefutável desse fato.

E isso basta?

Não. Gostar de escrever e escrever não basta para que você se apresente ?ei, sou escritor.? Porque dai vem a segunda pergunta:

Posso ler alguma coisa sua?

Se a sua resposta for ?não?, ou ?escrevo pra mim mesmo, sem pensar no que estou escrevendo?, então melhor não se apresentar como escritor, nem teria sentido.

Escrever intencionalmente e compartilhar o que você escreve, essas são as duas condições mínimas para dizer que você é um escritor. Amador, por paixão, ocasionalmente e sem compromisso, mas ainda sim, um escritor.

Ah, mas achei que para ser escritor, precisava ter livros publicados, viver da escrita.

Eu também. E confesso que ainda tenho dificuldade em dizer sem gaguejar que sou uma escritora. Prefiro dizer que TAMBÉM escrevo, entre outras centenas de coisas, ou às vezes digo que sou uma ?aspirante a escritora?.

Mesmo com um livro e vários artigos publicados, mesmo pensando na escrita todo dia, ainda não me considerava uma escritora de verdade.

Talvez precisemos de um contrato, uma carteira assinada, um crachá, um carimbo ou qualquer papel para autorizar o uso desse título.

Ou talvez nossas rotinas não reflitam os estereótipos que temos da vida de um escritor: as noites boêmias, lançamentos de glamour, morar em uma grande cidade, viver filosofando sem dar a mínima pra ninguém, nem ter Instagram, escrever um romance incrível de um dia para o outro.

E será que ainda existe algum escritor assim?

Se ainda existir, são raros.

Porque a maioria tem outras profissões, muitos fazem sucesso online e não tem nada impresso, e outros ou como eu, escrevem menos de mil palavras por dia, entre uma fralda, um jantar e um passeio no parquinho, na minha vida intensa de mãe e expatriada. Mesmo não ganhando com isso, mesmo tendo apenas um livro publicado.

E acho que é exatamente aqui, quando você se da permissão para ser e se chamar de escritor, ou do que você quiser, sem dar importância aos que outros pensam ou à diferentes definições, que você finalmente se torna um.
 

Ana Paula De Moura Souza

Ana Paula de Moura Souza é mineira, escritora, contadora de histórias infanto-juvenis e criadora de conteúdo. Formada em comunicação social pela UFPR, já publicou dois livros, Teodoro e a Ambulância e o Diário de Au Pair. Atualmente mora na Suíça com o marido e dois filhos e participa do Curso Livre de Formação de Escritores.

 

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